Uma explosão de arte e resistência toma conta da cidade e reforça a mobilização popular contra a instalação da UTE São Paulo
Um muro cinza na Avenida Marechal Deodoro da Fonseca, em Taubaté, virou palco de um grito coletivo. Cores vibrantes e traços firmes agora estampam um mural que rejeita a instalação de usinas termelétricas no Vale do Paraíba. Conduzida pelo artista e professor Aron Pereira, a pintura foi realizada nesta semana em um muro cedido pelo Lar Escola Santa Verônica e já atrai olhares atentos de quem passa. Mais do que arte, é um manifesto.
O mural não está sozinho. Ao lado da obra, um QR Code convida o público a acessar uma plataforma repleta de informações sobre os riscos associados às termelétricas — estudos técnicos, vídeos, manifestos e formas de engajamento. A iniciativa integra uma ampla mobilização contra a Usina Termelétrica São Paulo (UTE São Paulo), planejada para o município vizinho de Caçapava.

Desde o anúncio do projeto em 2022, ao menos dez municípios da região já emitiram moções de repúdio. O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) também publicou um manifesto, com assinaturas de renomados cientistas como Carlos Nobre e Wilson Cabral. As audiências públicas realizadas em 2024, marcadas por protestos, chegaram a ser suspensas por falta de segurança, segundo parecer do próprio Ibama.
Os riscos não são poucos. A UTE São Paulo seria uma das maiores da América Latina, com capacidade de 1,74 GW, movida a gás natural fóssil. O problema, segundo especialistas, vai muito além da emissão de carbono. Por estar em uma região cercada por serras, o Vale do Paraíba funcionaria como uma “bacia”, concentrando poluentes no ar. Os impactos à saúde, à agricultura, aos mananciais e ao turismo seriam duradouros e potencialmente irreversíveis.

A Igreja Católica também engrossou o coro. No dia 24 de maio, a Paróquia São Pio X, em Caçapava, reuniu cerca de 80 pessoas em um evento ecumênico e informativo, com caminhada e reflexões sobre os impactos da termelétrica. A carta dos bispos da Província Eclesiástica de Aparecida, publicada em dezembro, já havia formalizado o posicionamento contrário. O assunto ganhou ainda mais visibilidade com a exibição de uma reportagem especial pela TV Aparecida, no programa Arquivo A.
O licenciamento da usina está travado desde fevereiro de 2025. O Ibama considerou mais da metade das respostas da empresa Natural Energia como insuficientes, impedindo a emissão da Licença Prévia. Mesmo assim, o risco segue rondando: o Senado aprovou recentemente o PL 2159/2021, que pode facilitar a liberação de projetos como esse — mesmo sem estudos ambientais conclusivos. Agora, cabe à Câmara e, por fim, à Presidência decidir se esse retrocesso ambiental será sancionado.

Enquanto isso, a sociedade civil segue se movimentando. O mural de Taubaté é apenas mais um capítulo de uma história feita de resistência, ciência e fé. A mensagem é clara: o futuro do Vale do Paraíba não pode ser poluído por interesses de curto prazo.
📲 Acesse o Linktree com estudos, manifestos e formas de apoio:
https://linktr.ee/termeletricanaobrasil
Fotos: Ana Cláudia Rodrigues
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